A morte do estudante de 16 anos, em frente à Escola Estadual Professora Adelina Almeida, onde estudava, trouxe à tona uma faceta da adolescência petrolinense muitas vezes ignorada pela própria família.
Segundo a polícia, Lucas Adam da Silva, atacado e morto a facadas por dois outros jovens, teria sido vítima de integrantes de gangues juvenis que existem na cidade.
A polícia afirmou, na ocasião, que há grupos formados por estudantes praticando atos de violência nas escolas e nos centros de compra da cidade. Disse que tem conhecimento de que os adolescentes costumam marcar encontro para brigar e todos que se envolvem na briga querem se vingar depois.
A nossa equipe conversou com um jovem (que não será identificado nesta matéria) que revelou ser realidade a formação das chamadas ‘gangues’ em alguns bairros de Petrolina. Segundo ele, a chamada “PVT”, uma espécie de abreviatura da palavra “Pivete”, seria uma das gangues mais violentas. Esta seria formada por adolescentes do bairro Vila Eduardo e, constantemente, envolve-se no que chamou de “coisa pesada mesmo”.
Um outro grupo chamado “Ratatá”, formado por adolescentes do bairro Gercino Coelho, estaria também envolvido em questões da mesma natureza. O jovem confirmou a informação da polícia de que os grupos marcam encontros e – meninas e meninas, por exemplo, têm lotado o shopping nos sábados à noite para medir influência e força.
Perguntado sobre o que as famílias acham desse envolvido dos adolescentes com tais grupos, o jovem foi enfático em responder: “Na maioria das vezes, os pais nem notam que o filho tá numa dessa. E quando uma tragédia como essa última aí acontece, dá pra perceber isso, quando eles , chorando, dizem ‘meu filho não fazia nada a ninguém, não se envolvia em confusão’. É triste mas é a verdade”, explicou.
O jovem com quem o Folha conversou diz ainda que é nas escolas que o grande grupo se organiza. “É assim: se o cara ou a menina chega e não quer se juntar com um dos grupos na escola, vai sofrer muito nas mãos dos outros. Então, muitos acabam se envolvendo pra se proteger mesmo”, declara.
Por serem menores e estarem protegidos pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, a Justiça pouco pode fazer em casos de violência nos quais esses meninos e meninas se envolvem. Eles têm mesmo de encontrar nas famílias o limite, o controle, a educação para se afastarem desse mundo paralelo em que têm se envolvido.
Essa, portanto, é uma realidade que desafia as famílias e a Justiça de Petrolina. O certo é que ignorar o fato pode levar parte da adolescência a uma condição sem volta, até porque é uma realidade que os leva diretamente para outro caos, que é o encontro com as drogas.
Na década de 80
Na década de 80, grupos chamados “galeras” também preocuparam famílias no Vale do São Francisco. Embora a motivação para, por exemplo, grupos rivais que se formavam entre Juazeiro e Petrolina fosse o ‘bairrismo’ entre as duas cidades, outras galeras de cada município tinham como estímulo a simples prática da violência. Foi necessário, naquela geração ainda protegida por valores consistentes no âmbito familiar, muito rigor para trazer adolescentes de volta ao equilíbrio social e moral. Mesmo assim, muitos se perderam.
Atualmente, quando o núcleo “família” se mostra cambaleante, meninos e meninas tornam-se cada vez mais vulneráveis a esse tipo de atuação.Como se buscassem segurança e aceitação que não conseguem em casa. É um grande desafio para a sociedade.